quinta-feira, julho 20, 2006

Fazendo nhoque

Domingo queimei minha mão fazendo nhoque. Não era bem um nhoque daqueles que as nossas avós faziam espremendo duzentos quilos de batata e enchendo a mesa de farinha e cortando as tiras em gominhos (que teimávamos em roubar), era um desses nhoque de saquinho. Pronto. Que só precisa esquentar. O detalhe é que coloquei nhoque demais de uma vez na panela, a água fervendo transbordou e caiu na minha mão direita.
Aí foi aquela coisa de queimadura de cozinheira de fim-de-semana, bem normal. Primeiro doeu, ficou vermelho e passou. Nada sério, mas Deus tinha um mistério ali. Crente é fogo! Literalmente nada a ver com a queimadura, mas aqueles que crêem são estranhos mesmo, temos o privilégio de enxergarmos a mão de Deus em tudo quanto é lugar e, pra variar, dessa vez não foi diferente. Mas veja bem, não tem nada a ver com a "mão de Deus", mão de castigo, mão de correção, mão decapitando cabeças por ter derramado a água no fogão. Não! Mas a mão de Deus que age em nossos corações quando encontra espaço, mão que tira tampões de nossos ouvidos espirituais para que entendamos o que nosso Pai quer falar conosco e não nosso feitor. Foi dessa forma que vi a mão de Deus trabalhando no domingo.
Mas qual foi o mistério? Nenhum, para ser exata. O que me chamou a atenção foi que toda vez que aproximava a mão do calor do fogo minha pele ardia terrivelmente, mesmo sem nenhum vestígio aparente de queimadura. Coloquei a mão na água fria, passei uma pomadinha e pronto, a dor acabou de vez. Só que fiquei pensando.. em outras queimaduras, outras feridas...
Você já teve alguma ferida na alma, não é mesmo? Eu já tive muitas. As feridas na alma funcionam da mesma forma que minha mão queimada na água fervente do nhoque. Aparentemente estão curadas, mas quando submetidas ao mesmo calor daquilo que as provocou, ardem profundamente. Esse ardor é de quando ouvimos que uma pessoa que nos magoou estará em determinado lugar. Perdemos a vontade de ir (mesmo que tenhamos esperado ansiosamente por aquele evento), é como o ranço do namoro que terminou antes de começar porque apareceu alguém mais disposto a tomar uma atitude antes que nós, é como a frustração da entrevista que não deu certo porque não tivemos a coragem de assumir um novo desafio ou talvez as palavras que ouvimos durante anos e que embora no início não acreditássemos nelas, com o passar dos dias transformaram-se em verdades na nossa vida. Palavras de desânimo, de descrença, de desprezo por nós.
Assim que me converti, ganhei uma amiga. Éramos como carne e unha, não desgrudávamos por nada. Isso é uma coisa comum entre mulheres e homens, termos amigos em quem confiamos plenamente, contamos tudo, até aquilo que não contamos para Deus ou para nossas mães, para essas amigas e amigos contamos com certeza. Nossa amizade aconteceu no início da minha conversão, íamos juntas para os cultos, a conversa não tinha fim e tudo ia muito bem até o dia em que um amigo se apaixonou por ela e foi rejeitado por ser um pedreiro. Fiquei estarrecida e começamos a discutir e, no auge da discussão (como em qualquer discussão falamos coisas que não deveriam ser ditas), ela disse que queria mais que ele morresse. Foi um choque, uma decepção e uma tristeza imensa. Nossa amizade começou a esfriar e acabamos nos afastando completamente, no entanto, dei para me sentir mal. Quando sabia que ela ia em um trabalho eu preferia não ir. Começamos a nos antagonizar tomando sempre lados opostos nas questões da obra, até o dia em que fui pregar numa igreja no interior de São Paulo. Deus abençoou muito, curou enfermos, salvou vidas e terminando o trabalho uma profeta veio ao meu encontro e me deu o seguinte recado: "Minha irmã, o Senhor manda lhe dizer que quando você pregava a palavra era para você mesma e que existe uma pendência na sua vida que você precisa resolver e é o perdão que precisa entregar para alguém". Queimou como fogo. A ferida ardeu. É interessante como sabemos do que Deus está falando, mesmo sem que Ele dê detalhes para ninguém. Fui pra casa mastigando aquela palavra.
Passado um tempo tivemos uma festividade na igreja e uma jovem do ministério que nos visitava pediu para que cada irmão que tivesse uma pendência com outro fosse a frente e o chamasse pelo nome e ali se abraçassem e pedissem perdão um ao outro. Foram indo, um após o outro. Eu, no último banco, orei ao Senhor no meu coração e disse "Pai, se eu devo pedir perdão para minha irmã que o Senhor faça alguém me chamar". Nem acabei a frase por completo e ouvi meu nome lá na frente, quando fui para lá e peguei no microfone, aquela irmã que tinha pendência saiu e comentou com as pessoas lá fora: “ela vai me chamar, ela vai me chamar” e realmente eu chamei, pedi perdão e o Senhor nos deu grande graça depois daquele dia. Hoje aqueles amigos se casaram com outras pessoas e estão bem e abençoados, mas essa história é apenas para mostrar o que uma ferida na alma faz. Deixei de freqüentar trabalhos, parei de evangelizar, sai do grupo de louvor porque meu coração "ardia".
Não sei qual é a ferida de sua alma e nem qual a situação que faz com que seu coração arda de dor, se são traumas de emprego, relacionamentos perdidos, decepções com amigos ou família, mas, se você perdoar (mesmo que não sinta nada), o Senhor irá derramar do seu bálsamo de cura sobre a sua vida, restaurando seus sentimos e emoções para que não haja mais dor ou sofrimento, para que acima de tudo você não fuja de mais nada ou de mais ninguém. E, tenha certeza, esse remédio cura muito mais do que qualquer fórmula humana, porque tem um ingrediente infalível: o amor de Deus.

"Mas as multidões, percebendo isto, seguiram-no; e ele as recebeu, e falava-lhes do reino de Deus, e sarava os que necessitavam de cura." - Lucas 9:11


Lavínia Nalin
20/07/2006

Voltei....

Depois de 500 anos voltei a escrever....