sábado, julho 02, 2005

Um amor como esse....

"Bem aventurados vós os que agora chorais, porque haveis de rir".
Lucas 6:21

Estava lavando louça e comecei a me lembrar de uma história da minha família. Impressionante como Deus fala comigo quando lavo louça, talvez nesse processo lave minha vida e minha alma também.

Quando eu era pequena morava em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, minha família tinha sido obrigada a se mudar para lá, porque meu pai tinha sido processado pelo exército e perdendo sua colocação (era operador de Raio X) não tivemos nenhuma outra alternativa a não ser ir para a casa de minha avó. Era um período de muita saudade, nós nos víamos apenas uma vez por mês, porque ele tinha ficado em São Paulo procurando emprego, era fácil no entanto saber quando era o dia do Seu Antenor chegar porque minha mãe se embonecava o máximo que podia dentro dos limites impostos pela nossa condição.
Mas esse dia era especial e nós não sabíamos o porquê, era o aniversário de casamento deles. Meu pai nunca tinha esquecido e Dona Fioca, a quem ele chamava carinhosamente de "neguinha" sabia disso. Ficamos numa espectativa muito grande. O dia foi passando e ao som de qualquer barulho no portão todos saiam correndo, mas era uma frustração completa, nunca era ele.
Chegou a hora do almoço e nada. Minha mãe foi se sentar na sala simples e pequena da casa, com a porta aberta, uma esperança enorme de que ele passasse por ali e a surpreendesse, mas não foi assim. Eu era bem pequena e pela primeira vez vi alguém murchar diante de mim, como uma rosa em dia quente de verão. Ela não saiu da poltrona, suas mãos cruzadas sobre o colo e o rosto voltado para a parede lateral da casa, seu olhar perdido, vendo a tarde cair sem dar apenas um sinal.
Veio a noite, lembro de minha avó perguntar se ela não ia comer nada e vinha um sopro lento e baixo de resposta, bem tênue como se a vida estivesse se esvaindo devagar. Ela murchou completamente e ficou ali prostrada pela dor até umas 10:00 horas, foi aí que ouvi o barulho de um motor e fui olhar na janela, era um ônibus Cometa e a porta abriu devagar, no processo inverso do nosso coração que só faltou sair pela boca, mas não era meu pai. O motorista desceu e perguntou se ali morava uma moça chamada Maria José, confirmamos e ele respondeu dizendo que um rapaz havia passado horas na rodoviária e lhe havia feito um pedido, que entregasse uma encomenda para ela porque não poderia viajar e estendeu uma caixa azul de celofane.
Eram orquídeas.
Minha mãe ficou ali parada, muda, duas lágrimas correram pelo seu rosto e um sorriso bem singelo delineou seus lábios.
Ele não tinha ido, mas seu amor estava presente. Seu coração estava preso a ela e o dela a ele. Nunca vou me esquecer disso.

Assim também é o amor de Deus sobre as nossas vidas, há momentos que pensamos que Deus não virá ao nosso encontro, que nos esqueceu, que não nos ama mais. Mas Ele está lá. Seu amor está sempre presente ao nosso lado, cobrindo nossas vidas de cuidado, amparando, sustentando, renovando nossas forças.

Diante das muitas lutas, do sentimento de solidão e sensação de desamparo, nunca dúvide, na hora certa, mesmo que pense que suas forças acabaram e que sua esperança morreu, Ele virá, não importa se através de um anjo como foi com Daniel, se por meio de um copeiro para desvendar o sonho de Faraó, não importa, como o lenço de Paulo ou a sombra de Pedro.

O que importa é que um amor desses nunca falha, nunca tarda, mas sempre chega na hora certa.

Que nessa noite, o Espírito Santo possa chegar na sua vida, trazendo flores, a benção que você tanto tem esperado e que seu coração se deleite em Deus.

com carinho

Lavínia
Igreja Cristã Época da Graça